Muito se fala que a prostituição é uma das profissões mais antigas do mundo, o que de fato não sabemos, mas uma coisa é certa, a indústria da pornografia é sem dúvida bastante antiga. Temos notícias de comercialização de brinquedos eróticos desde 2500 anos a.C., na Grécia; fotos de prostitutas nuas eram vendidas nas ruas de Paris, no século 19, até, finalmente, o surgimento dos filmes pornôs no século 20.
Os filmes pornôs eram exibidos apenas em clubes de sexo ou bordéis, até que nos anos 70, foi instituído nos EUA a classificação etária no cinema, fazendo com que os longas pudessem ser vistos em “salas especiais”. Algumas produções marcaram essa época, como Garganta Profunda; Atrás da Porta Verde e O Diabo na Carne de Miss Jones.
Ademais, a indústria de filmes adultos teve uma grande importância no desenvolvimento tecnológico do setor de audiovisual: foi ela que mais investiu na propagação dos vídeos cassetes (pois a maioria das fitas vendidas nesse início eram pornôs), trabalhou no desenvolvimento de compressão de arquivos de vídeos e, pasmem, até ajudou a estabelecer melhores conexões de internet.
Os números dessa indústria impressionam, ou melhor, impressionavam, já que ela chegou a render incríveis 97 bilhões de dólares pelo mundo e a produzir mais de cinco mil filmes por ano somente nos EUA, até que veio o baque, e veio forte! A partir de 2007, o faturamento começou a despencar, chegando a uma perda de mais de 50% em apenas dois anos. O vilão dessa queda foi a internet, que inundou o mercado de sites com conteúdo pornô grátis (passam de 25 milhões e são responsáveis por 30% do trafego na rede em todo o mundo). Hoje, o negócio sobrevive na sua maioria por meio de assinaturas de serviços de streaming, mas muito longe da rentabilidade do passado. Uma curiosidade é que as visitas a sites pornôs tiveram um aumento de mais de 600% durante a pandemia da Covid-19, e as mulheres foram as grandes responsáveis pelos novos acessos.
Sob o ponto de vista artístico, o mundo dos eróticos nunca foi muito bem aceito em Hollywood, todavia algumas atrizes do meio tentaram furar a bolha e até conseguiram alguns papéis em filmes “convencionais”, mas nada de muito sucesso. São poucas as exceções de astros que percorreram esse caminho: Sylvester Stallone iniciou sua carreira em O Garanhão Italiano; Cameron Diaz chegou a participar de um soft porn (erótico sem sexo explícito), antes da famanão percam tempo procurando seu filme, ela comprou os direitos da obra e removeu o conteúdo da internet; Sasha Grey, um dos nomes mais famosos do mundo pornô, conseguiu, graças ao renomado diretor Steven Soderbergh, passar para o mainstream hollywoodiano e estrelou alguns filmes e séries de relativo sucesso.
Enfim, apesar do enorme preconceito, os dois mundos da sétima arte uniram-se algumas vezes em tentativas de integrar o sexo explícito em tramas com histórias: Love, 2015, do diretor franco- argentino Gaspar Noé, retrata as memórias sexuais do protagonista em relação a uma ex-namorada. O filme foi apresentado no festival de Cannes e deixou a plateia perplexa. A maioria abandonou a exibição antes dos dez minutos iniciais; 9 Canções, 2004, de Michael Winterbottom, traz um casal de jovens que se conhecem num concerto e vivem um romance repleto de música e sexo; The Brown Bunny, 2003, o diretor e ator Vincent Gallo conta a história de um homem solitário em busca de um amor perdido; a estrela do filme é a renomada atriz Chlöe Sevigny (sua namorada à época), que aceitou fazer uma cena real de sexo oral na produção, o que lhe causou grande prejuízo com a quebra de vários contratos para outros filmes no futuro; Romance X, 1999, de Catherine Breillat, e não se enganem com o título, aqui a barra é pesada: uma professora frustrada em seu relacionamento engata um caso extraconjugal com o diretor da escola em que trabalha.
Outros filmes e séries do mesmo tema:
O Anticristo – Globo Play
Ninfomaníaca – Telecine
Calígula
Boogie Nights – HBO
The Deuce – HBO
Sex Education – Netflix
O Império dos Sentidos – Mubi
Azul é a cor Mais Quente – Telecine
Deite Comigo – Looke
Sobre o autor da coluna
Michel Abrahão é um cinéfilo paulista, radicado na Paraíba, proprietário da antiga e querida Ribalta Vídeo, referência para todos os moradores de João Pessoa também apaixonados por cinema.