Há poucos meses, o renomado diretor e roteirista Roman Polanski apresentou o documentário Polanski, Horowitz. Hometown, no qual ele revisita o horror de sua infância durante a Segunda Guerra Mundial, em sua terra natal, a Cracóvia, junto ao amigo, o fotógrafo e sobrevivente do holocausto Ryszard Horowitz (um dos vários judeus salvo graças ao industrial alemão Oscar Schindler). O documentário, bastante forte, mostra-nos como foi difícil, desde cedo, a vida deste que é um dos maiores talentos do cinema.
Nascido em Paris, em 1933, filho de emigrantes judeus polacos, Polanski viveu na capital francesa apenas até os três anos de idade, depois, em uma péssima decisão de seus pais, mudou-se para a Cracóvia justamente na pior época possível, um pouco antes do início da guerra. Lá, ele perdeu a mãe, morta nos campos de Auschwitz, e ficou separado de seu pai, levado preso para outro lugar na Áustria. Ainda garoto, sobreviveu ao gueto polonês vivendo como mendigo, escondendo-se dos nazistas em celeiros e florestas e fingindo ser um menino católico até a libertação da Polônia pelo exército soviético, em 1945. Após a guerra, reencontrou seu pai, que o mandou para uma escola técnica, mas o jovem já estava fisgado pelo mundo das artes, tendo iniciado no teatro como ator e mais tarde como estudante de cinema na escola de Lodz.
A carreira de Polanski começou aos 21 anos, quando apresentou seu primeiro curtametragem, A Bicicleta, e, em 1962, seu primeiro longa-metragem, Faca na Água, foi o primeiro filme polaco a conseguir uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Logo, muito respeitado no meio, ele seguiu caminho até a França e a Inglaterra, onde produziu dois outros enormes sucessos: Repulsa ao Sexo, 1965, com Catherine Deneuve, e Armadilha do Destino, 1966, ganhando respectivamente o Urso de Prata e, em seguida, o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Ainda na Europa, dirigiu o divertido A Dança dos Vampiros, 1967, estrelado por sua então belíssima namorada Sharon Tate.
Em 1968, Roman finalmente chegou a Hollywood e fez, no mesmo ano, o clássico de terror O Bebê de Rosemary, para, em seguida, sofrer o que, segundo ele, seria a tragédia central de sua vida: o assassinato brutal de sua esposa grávida de nove meses (Sharon Tate), por membros da “família” Manson. Por consequência, o cineasta decide voltar para a Europa, retornando à América apenas em 1974, para o lançamento de Chinatown (indicado a 11 Oscars), e reiniciar o que seria uma longa carreira nos EUA, até que em março de 1977, quando foi preso na casa de Jack Nicholson pelo abuso sexual de uma garota de 13 anos de idade. Ele mesmo se declarou culpado e ficou encarcerado por 47 dias, até ser liberado após pagamento de fiança, mas sabendo de uma nova detenção à vista, refugiou-se na França, onde vive até hoje.
Entre tantas tragédias pessoais, os trabalhos de Polanski na volta à Europa, tornaram-se mais escassos e um pouco desprezados por parte da crítica, até que, em 2002, ele lançou o maravilhoso O Pianista, que lhe rendeu o Oscar de melhor diretor. Na vida pessoal, é casado com a modelo e atriz Emmanoelle Seigner desde 1989, com quem tem dois filhos. Finalmente, nos últimos dez anos, lançou seis filmes que passaram despercebidos por muitos, e um, entre eles, desejo indicar: Carnage – Deus da Carnificina, 2011, (disponível no Amazon Prime): trata-se de uma crítica social muito bem-vinda, pois descortina a hipocrisia do politicamente correto comum nos dias de hoje. A obra é adaptada de uma peça teatral de sucesso e conta com um time forte de estrelas: Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz e John C. Reilly. Imperdível!
Filmes essenciais de Polanski:
Repulsa ao Sexo – Looke
A Dança dos Vampiros – Apple TV
O Bebê de Rosemary – Telecine
Chinatown – Telecine
Busca Frenética – HBO
Lua de Fel – Apple TV
O Último Portal – Amazon Prime
O Pianista
O Escritor Fantasma – Claro Vídeo
Carnage, Deus Da Carnificina – Amazon Prime
Baseado em Fatos Reais – Amazon Prime
J’accuse, O Oficial e o Espião – Apple TV
Sobre o autor da coluna
Michel Abrahão é um cinéfilo paulista, radicado na Paraíba, proprietário da antiga e querida Ribalta Vídeo, referência para todos os moradores de João Pessoa também apaixonados por cinema.
