Sem muito alarde, recentemente, um novo filme de Robert de Niro, 77 anos, estreou na Amazon Prime (Em Guerra com o Vovô), e se trata, a saber, de mais uma comédia fraquinha que esse “monstro” do cinema fez nos últimos anos. Confesso que ver um dos meus maiores ídolos aceitando tantos papéis totalmente aquém do seu talento, e, em especial, da sua história, incomoda-me. Afinal, quem já fez Táxi Driver, O Poderoso Chefão, Os Intocáveis, Cabo Do Medo, O Franco Atirador, Touro Indomável e tantos outros grandes sucessos que marcaram época poderia se preservar um pouco mais. Claro, cada um tem o direito de gerir a sua própria carreira como bem entender, mas o que acontece aqui em particular vai muito além da vontade de trabalhar, e sim a necessidade de fazer caixa. Em 2017, o ator foi flagrado em um bar em NYC, gritando com sua, então, esposa: “Eu não precisaria fazer tantos filmes de merda se você não gastasse todo o meu dinheiro”. O casamento, obviamente, chegou ao fim em 2018, e uma batalha judicial cheia de capítulos e bastante cara seguiu impondo um ritmo frenético de trabalho a De Niro. Sua advogada, Caroline Strauss, também disse que o astro sofreu um duro golpe por causa da pandemia da covid 19, de modo que sua cadeia de restaurantes japonês Nobu e seu hotel The Greenwich ficaram fechados durante a crise.
Em contrapartida, outras lendas da sétima arte seguem o caminho inverso, preservando-se cada vez mais e fazendo poucos e bons filmes. Nesse sentido, vimos Sir Anthony Hopkins, 83 anos, levar seu segundo Oscar pelo seu intenso trabalho no ótimo Meu Pai; Robert Redford, 84 anos, entregar o singelo Nossas Noites; Morgan Freeman, 84 anos, fazendo poucas participações em longas e algumas dublagens; Michael Caine, 88 anos, trabalhando menos e curtindo os netos recém-nascidos; Dustin Hoffman, 79 anos, no “estaleiro” desde as diversas acusações de assédio sexua,l em 2018, e se preparando para retornar a carreira em uma peça na Broadway; Al Pacino, 81 anos, na elogiada série Hunters, e vamos ver Harrison Ford, 78 anos, ressurgir ao seu papel icônico em Indiana Jones 5, que deve estrear no ano que vem. Entretanto, outros ícones parecem ter se despedido definitivamente das telas: Jack Nicholson, 84 anos, ausente desde 2010; Alain Delon, 85 anos, desde 2008; Gene Hackman, 91 anos, fora do jogo desde 2004.
Por conseguinte, com as mulheres a situação é bem diferente e muito mais grave, pois bons papéis são mais difíceis de achar com o avançar da idade, como se o sex appeal fosse a única variante do talento. Atrizes de sucesso estrondoso, como Sharon Stone, Melanie Griffth, Renee Zellweger, Demi Moore, quase que desapareceram das principais produções de uma hora para outra. Casos de preconceito flagrante são vistos praticamente há anos e nada muda. A atriz Catherine Zeta-Jones chegou a ouvir de produtores que o público não tem interesse em mulheres acima de 40 anos; Anne Hathaway contou que vem perdendo papéis para atrizes mais novas desde seus 34 anos; Geena Davies, 65 anos, chegou a criar um instituto para defender a inclusão da categoria, Mulheres na Mídia. Mesmo quando vemos protagonistas femininas com mais de 60 anos (Merryl Streep, Helen Mirren, Maggie Smith, Catherine Deneuve), sabemos que estamos diante de exceções à regra. Assim sendo, nos últimos anos o assunto vem sendo mais discutido e talvez tenhamos algumas mudanças. Por enquanto, Hollywood segue ceifando carreiras femininas prematuramente ou oferecendo uma fatia bem menor desse bolo.
Sobre o autor da coluna
Michel Abrahão é um cinéfilo paulista, radicado na Paraíba, proprietário da antiga e querida Ribalta Vídeo, referência para todos os moradores de João Pessoa também apaixonados por cinema.