O cinema, além de ser uma das maiores formas de entretenimento em todo o mundo, é também um fácil e produtivo meio de nos enriquecer culturalmente. Por intermédio dele, podemos conhecer inúmeros lugares, pessoas, acontecimentos históricos e viver situações sem sair da frente de uma tela. Nada contra as toneladas de filmes de ação, comédias rasteiras e melodramas, afinal, sou um grande fã de quase todos os gêneros, mas ver os “filmes certos”, mesmo que apenas de vez em quando, é um grande favor que fazemos a nós mesmos.
Nesse sentido, em 2007, o jornalista canadense e crítico de cinema David Gilmour (não confundir com o ídolo do Pink Floyd), lançou um livro bastante inusitado: O Clube do Filme. Em síntese, a história se passa numa época bastante difícil para Gilmore: sem emprego fixo e com cada vez menos dinheiro, ainda vivia o drama de ver seu filho adolescente acumulando fracassos como estudante do ensino médio. O desinteresse do garoto pelos estudos, somado ao seu tempo livre, motivou-o a criar uma experiência caseira bastante original, e, o mínimo, corajosa: o garoto poderia dar um tempo nos estudos desde que assistisse três filmes por semana, obviamente escolhidos por seu pai.
Foram 113 títulos no total, com uma variedade de obras, desde clássicos como a trilogia do Poderoso Chefão (Coppola), O Iluminado (Kubrick), Interlúdio (Hitchcock), O Bebê de Rosemary (Polanski), Rastros de Ódio (John Ford), Quanto Mais Quente Melhor (Billy Wilder), até os mais contemporâneos Pulp Fiction (Tarantino), Veludo Azul (David Lynch), Tubarão (Spielberg) e tantos outros que lhe foram mostrados. Trata-se de uma lista de respeito, a qual seu pai teve a sensibilidade de escolher o filme certo para cada momento no cotidiano do filho sem querer forçar uma cinematografia mais intelectual, o que poderia até fazer um efeito inverso na proposta de oferecer-lhe um momento leve, sem muitas pretensões educacionais: “Sabia que não estava dando uma educação sistemática em cinema, não era esse o objetivo”. As sessões eram seguidas de um amistoso bate-papo que sempre ultrapassava ao que eles tinham acabado de assistir.
Assim sendo, trata-se então de uma leitura não só sobre cinema, mas principalmente sobre convivência familiar numa época bastante difícil para alguns, a tão famigerada adolescência. Acho até que o autor poderia se alongar mais nos comentários sobre cinema: explicar o porquê de cada filme escolhido, a importância de alguns diretores, atores e atrizes. Faltou usar melhor sua experiência como crítico e nos seduzir mais nos comentários cinematográficos.
Enfim, o melhor do livro é a ideia de que ele nos mostra como de usar o cinema também como um aliado na criação intelectual e na comunhão familiar. Claro que aceitar que um filho largue os estudos não me parece uma ideia razoável, acredito que na prática seria um desastre, mas uma única sessãozinha de cinema por semana com os filhos junto aos pais pode e deve fazer uma grande diferença, principalmente nos dias atuais quando uma cultura tão mais frívola nos ataca diuturnamente.
Livro: O Clube do Filme
Autor: David Gilmore
Tradução: Luciano Trigo
Editora: Intrínseca
Alguns filmes da lista de Gilmore e onde encontrar:
A Felicidade Não Se Compra – Claro Vídeo
Bonequinha de Luxo – Claro Vídeo
Assim Caminha a Humanidade – Google Play
O Bebê de Rosemary – Telecine
Scarface – Netflix
Ladrões de Bicicleta – Telecine
Psicose – Telecine
Quanto Mais Quente Melhor – Telecine
Matar ou Morrer – Telecine
Nascido Para Matar – Telecine
Os Imperdoáveis – HBO
Na Hora da Zona Morta – Amazon Prime
Interlúdio – YouTube
Sobre o autor da coluna
Michel Abrahão é um cinéfilo paulista, radicado na Paraíba, proprietário da antiga e querida Ribalta Vídeo, referência para todos os moradores de João Pessoa também apaixonados por cinema.